Carlos Freitas, antigo director desportivo do Sporting e do Sp. Braga, esteve esta noite no programa Resultado Final, da SportTv, onde falou da actualidade leonina. O ex-dirigente do clube de Alvalade lamenta profundamente «a crise» verde e branca e diz até que «não compreende» como o Sporting «desaproveitou uma excelente fase de crescimento e bons resultados». Sobre o Sp. Braga, destacou Salvador, Jesualdo, Jesus e Domingos, essenciais no «aumento de qualidade e na viragem do clube minhoto».

Sobre o seu período no Sporting: «Nunca tive problemas»

«Sou um felizardo devido à maioria dos dirigentes que tive, nos vários clubes por onde passei e, nomeadamente, no Sporting. De 1999 a 2008, enquanto estive em Alvalade, nunca tive problemas. A função de director desportivo não se coaduna com o «pôr-se em bicos de pés». Está ligada a vários itens: competência, apresentação de resultados desportivos e financeiros. Este cargo pede frieza e não se coaduna com paixões exacerbadas. A mim permitiram-me trabalhar e apresentar resultados.»

Relativamente à sua saída de Alvalade: «É mentira que o Sporting só venda jogadores da formação»

«Em qualquer relação laboral há metas que pretendem ser atingidas e às quais é preciso dar resposta. No meu caso, posso lembrar que saí do Sporting duas vezes, saí do Sp. Braga e saí do Panathinaikos pelo meu pé, sem ondas e sem confrontações públicas. Saí porque quis, porque entendi que era esse o momento para sair. A dimensão dos clubes e a exposição mediática também dão azo ao crescer dos problemas. Eu saí quando entendi que se tinha caído num quadro analítico que dizia que o Sporting ganhava pelos jogadores da formação e perdia pelos jogadores que chegavam a Alvalade. Não é verdade, como não é verdade que só os jogadores da formação são vendidos. O Sporting entre 2000 e 2008 realizou cerca de 80 milhões com jogadores da formação. Vendemos 27, mas também se venderam outros.»

Sobre a actual crise leonina: «Para mim, é surpreendente. Está na década mais vitoriosa pós-Violinos»

«Para mim esta crise é surpreendente. Acho que o Sporting desaproveitou uma fase entre 2000 e 2009 por forma a estabilizar em termos competitivos e agora vai ter de reencontrar a tranquilidade. Há um estado depressivo nos sportinguistas. E o incrível é que a última década do Sporting é das mais vitoriosas no pós-Violinos. O Sporting ganhou taças, supertaças, esteve numa final europeia, perdeu campeonatos mesmo no fim, foi a quatro Champions consecutivas. O problema foi não ter a capacidade de potenciar esse bom momento. Custa-me muito ver o Sporting nesta situação, porque passei lá 75% da carreira. Não é nada agradável vê-lo com este desempenho desportivo.»

Sobre José Eduardo Bettencourt:

«Tive a oportunidade de trabalhar com Bettencourt como administrador mas o quadro como presidente é substancialmente diferente e colocou-lhe um desafio que, sem colocar em causa o seu empenho e o seu sportinguismo, não trouxe resultados positivos ao futebol do Sporting.»

Sobre a entrevista de Costinha:

«Não quero tecer grandes comentários sobre a entrevista do Costinha, até porque não a vi em directo. (…) Mas teve razão nalgumas coisas. Até porque hoje as pessoas têm medo de falar e, nesse ponto, ele não teve e falou.»

Sobre Liedson e a transferência do Levezinho: «Tem raça e golos, faz falta a qualquer equipa»

«Liedson é um amigo, é um jogador que me marcou. Deu-me muitas alegrias. Acho que é pacífico catalogarmos o Liedson como um dos grandes jogadores estrangeiros que passaram por Portugal. A função que ocupo está ligada a casos de sucessos como o dele e casos de insucesso. Outros há de jogadores que não vingam imediatamente e depois não têm tempo ou oportunidades para serem reconhecidos. O Liedson, desportivamente, faz falta a qualquer equipa. Tem raça e golos. As razões financeiras que levaram o Sporting a tomar esta decisão seguramente foram muito ponderadas. Acredito quem nem treinador nem director desportivo tenham gostado, é óbvio. Ninguém quer perder um jogador como Liedson.»

Sobre a mentalidade lusa: «Há preocupação excessiva em denegrir o que se faz bem»

«Portugal, em termos económicos, tem as dificuldades que tem, mas no país encontramos equipas muito competitivas e ombreamos com indústrias de topo, bem mais fortes. Mas jogamos finais europeias, disputamos e vencemos taças europeias. Estamos a falar de uma das indústrias que mais orgulha os portugueses. Podemos sempre melhorar, claro, mas acho que há uma preocupação excessiva de denegrir o que se faz de bom em Portugal, nomeadamente no futebol.»

Relativamente à capacidade financeira dos leões, em comparação com águias e dragões: «Também vimos Lisandro e Cardozo»

«Os dirigentes do FC Porto e do Benfica, em termos das «lutas» de jogadores, têm feito um trabalho interessante. Não se trata de «roubar» este ou aquele, trata-se de, num mercado condicionado pelos orçamentos, saber procurar e investir. O que FC Porto e Benfica têm feito é elogiável e reconhecido internacionalmente. Ir buscar jogadores de dois milhões de euros e vendê-los por 25 ou 30 milhões é assinalável, é por demais elogiável. Segundo li, a capacidade de investimento do Sporting nas duas últimas épocas foi superior às quatro anteriores mas o julgamento é feito pelos resultados e aí as contas estão abaixo do esperado. O Sporting também viu Lisandro López, também viu Cardozo, também conhecia Nilmar ou Daniel Carvalho. Mas chegando à altura de passar o cheque, era e é muito complicado. O Sporting é demasiado caro para ser terceiro e demasiado barato para ser primeiro ou segundo.»

Sobre negócios com o FC Porto: «Trocas entre rivais são positivas para o futebol»

«Enquanto estive no Sporting houve várias possibilidades de permuta entre jogadores do FC Porto e do Sporting. A troca Carlos Martins – Postiga foi proposta várias vezes e nunca foi aceite, acabou por não se realizar. Recentemente, que me recorde, só aconteceram duas mudanças desse género e de jogadores que eram pouco utilizados. A de Ricardo Fernandes por Clayton e a de Postiga e Nuno André Coelho. Em Itália, este género de negócios é normal. Aqui não são bem aceites. É preciso evoluir neste plano.»

Para os seus treinadores, elogios para todos:

«Paulo Bento saiu depois de mim, se calhar fruto do cansaço do acumular de determinadas situações. As maiores alegrias que tive foi com o Inácio e com o Boloni, a conquista do campeonato, mas também cheguei a uma final europeia com Peseiro e tive em Paulo Bento um bom acto de gestão. Jorge Jesus também é um bom treinador, dos melhores com quem trabalhei. Tem por mérito maior transformar jogadores medianos em jogadores bons. Domingos sempre teve bons resultados e merece outro tipo de desafios. Já passaram pelos grandes treinadores com currículos inferiores. O Domingos passou a vida inteira a lidar com a grande pressão de ser jogador do FC Porto por isso acredito que responda no mesmo patamar enquanto treinador de um clube ainda maior.»

Sobre o Sporting de Braga: «Tempo vai ser amigo»

«O Sporting de Braga tem um conjunto de pilares aos quais o tempo tem dado o devido reconhecimento. O primeiro facto é este presidente, Salvador, que marcou a viragem. E depois o trabalho de três treinadores que fizeram imenso pelo clube. Jesualdo, porque foi o primeiro a inverter o curso da história. Jorge Jesus, porque devolveu estabilidade e qualidade. E o Domingos, porque tem apresentado uma folha de serviços excepcional em termos de resultados. O Sp. Braga ainda tem dificuldades notórias quando dança em duas salas diferentes, como a liga e a Champions. Mas fez mais um ponto que o AC Milan, ganhou ao Arsenal, é preciso valorizar isso, ainda mais num clube que tem o orçamento que tem, comparado com os grandes clubes europeus.»

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