Postado Seg 15 Ago 2011 - 21:27
O livro “1983: O Ano dos Videogames no Brasil” relembra um dos momentos mais ricos da história nacional dos games. Uma época na qual a novidade dos games caiu no gosto dos brasileiros e se tornou fetiche em plena recessão oitentista.
O UOL Jogos leu o livro e conversou com o autor Marcus Chiado, ex-colecionador de jogos clássicos que manteve vivo o amor pelo hobby lembrando a história nacional dos videogames. Confira abaixo a análise e entrevista:
UOL Jogos: Como você teve a ideia de escrever esse livro?
Marcus Chiado: A ideia do livro ficou “cozinhando” na minha cabeça por ao menos uns 10 anos. Sempre me interessei pela história do videogame, enquanto nova forma de entretenimento, em nosso país. Ao descobrir o acervo digital do jornal Folha de São Paulo e também o acervo da revista Veja, automaticamente tive acesso a um mundo de informações com as quais não podia contar antes: nomes, datas, curiosidades, fatos etc. Informações “frescas” e da época em questão.
UOL: Como foi o processo de pesquisa? Conte-nos algumas curiosidades.
Chiado: Tanto no caso da Folha de São Paulo quanto da revista Veja, vasculhei virtualmente todas as edições de 1983, especialmente do caderno “Folha Informática”, que tivessem a ver com o assunto do livro. Há uma quantidade enorme de material – e muito, muito interessante! Usei, também, diversas revistas especializadas do período, tais como a Vídeo News, a Vídeo Magia, a SomTrês e a Micro & Video.
Há muitas curiosidades. Você sabia, por exemplo, que a Digimed, subsidiária da Sharp responsável pelo lançamento do Intellivision no país, preparou um vídeo em que, por meio de relatos de psicólogos e especialistas, ressaltava os jogos mais “inteligentes” daquele console em detrimento dos jogos puramente “motores” do Atari?
UOL: Qual foi o fim dessas empresas mencionadas no livro? Você pensa em escrever uma continuação?
Chiado: Sim, pretendo. Há uma “deixa” no fim do livro sobre isso. Eu até comentei um pouco sobre o ano de 1984, porém, o foco foi mesmo o momento único da chegada dos videogames ao país no ano de 1983.
UOL: No livro, nota-se que as empresas de videogame focavam forte no marketing em novelas, jornais, revistas e inserções de TV. Você acredita que os videogames tinham mais espaço no passado do que atualmente? Qual é a diferença?
Chiado: Sim, naquela época havia o frescor da novidade. Ninguém conhecia o videogame como nova forma de entretenimento, como um novo brinquedo. Tudo era novo. Esse frescor foi algo típico de 1983 e 1984, e foi muito marcante. O videogame era um símbolo da modernidade, todos queriam ter, ver experimentar. O comércio de varejo, acumulando perdas em setores como o de som e de televisão por causa da enorme inflação, viu o Natal de 1983 ser “salvo” com a chegada do Atari e Cia. Ltda. Depois, com a chegada de novas gerações de consoles (NES, Master System etc.), o videogame passou a ser algo mais “comum”, mais trivial.
UOL: Qual seu console favorito da época? Teve algum console que não veio para cá e você gostaria de ter visto de forma oficial ou até clonado?
Chiado: O Atari foi meu favorito, mas foi o Colecovision que sempre quis ter. Acabei conseguindo o meu somente em 1995 quando comecei minha coleção. Quando tirei o aparelho da caixa, parecia novamente uma criança de 10 anos!
UOL: Você enfatiza a importância da reserva de mercado nesse período inicial dos videogames. Como jogador - e não analisando questões políticas, essa lei foi boa?
Chiado: Como jogador a Reserva de Mercado foi ótima. Ela proporcionou a chegada de vários jogos, principalmente para o Atari, nas mais variadas marcas e fabricantes – e preços! Ainda que não “originais”, os cartuchos de outras marcas eram mais baratos e forneciam uma ótima opção à pessoa que quisesse ter ou experimentar os games. Depender apenas dos cartuchos da Polyvox, os únicos que seriam “originais”, era algo que custava mais – e a empresa não tinha a variedade de jogos da concorrência “desleal”, ou seja, dos cartuchos clones. Foi muito bacana.
Uol Jogos