Dava toda a impressão que não seria um primeiro passo em força, de rajada, avassalador. Mas já se adivinhava um passo certeiro, a espaços, elegante e, sem qualquer dúvida, com o pé direito. Mudou tudo nos últimos 15 minutos, com dois golos que atropelaram por completo a equipa escocesa. O Sp. Braga mostrou frente ao Celtic de Glasgow que o estatuto europeu ainda não ganha jogos e parte para a segunda mão, na Escócia, bem na frente dos escoceses que vão ter de suar muito para corrigir a derrota por 2-0 em Braga.

Quem esperava uma entrada do Sp. Braga de rompante no jogo enganou-se. Os minhotos sabiam que estavam a fazer história e que qualquer passo em falso poderia ser a morte do artista. Talvez por isso, os primeiros 10 minutos bracarenses foram algo tímidos e receosos, num futebol amorfo que, com o avançar do relógio se foi empolgando.

O Celtic tem mais tradição e um estatuto mais forte na Europa. Mas quando é preciso dominar uma bola, controlá-la, passá-la e, mesmo, metê-la dentro da baliza, o palmarés de pouco vale. Aí, vem ao de cima a classe e a qualidade dos protagonistas. Nesse ponto, pelo menos nesta noite, embora se possa deixar o vaticínio para o aglomerado das duas mãos, o Sp. Braga é superior.

Mesmo que tenha demorado a encontrar o norte e quase não tenha criado perigo na primeira metade. Aliás, se retirarmos um remate rasteiro de Salino, no minuto seguinte ao tento de Alan, pouco sobra para dizer. Mesmo o golo não tem grande história: cruzamento de Miguel García na direita e o coreano Ki Sung Yeung a dar uma mão aos bracarenses na busca pelo golo. Penalty tão claro como a forma como Alan o cobrou.

Elderson dá o toque...

Dos escoceses, ninguém sabia muito o que esperar. Os minhotos tinham o jogo controlado, mas a sentença cai sempre em saco roto, quando por trás está uma margem mínima. Ainda por cima, com uma equipa tipicamente britânica, com mais força que técnica e com uma imaginação quase tão escassa como a brisa fresca que soprou na tropical noite de Braga.

O futebol bracarense, claramente de tracção à esquerda, devido ao maior pendor ofensivo do lateral Elderson esbarrava na muralha escocesa. Muita força bruta, misturada, muitas vezes, com uma agressividade a roçar os limites, que os Guerreiros do Minho tiveram de combater com armas próprias.

E, esgotado o período da pólvora seca, chegou a machadada final. Canto de Matheus e toque subtil de Elderson a lançar a festa. Um grande balão de oxigénio para o mergulho em alto mar que vai ser a visita a Glasgow na próxima semana. E não haveria de ficar por aqui...

... e Matheus lança a bomba

Matheus tinha assistido Elderson para o segundo, mas não quis deixar a sua participação no jogo por aí. Um livre a uns bons 30 metros da baliza e uma bomba indefensável. Que golo! A melhor maneira de encerrar uma noite histórica para as cores bracarenses.

A noite mágica para o Sp. Braga pode ser ainda levada em conta como um aviso à navegação interna: a última época, se calhar, não foi assim fruto do acaso, como por vezes se faz parecer. A jogar assim, é bom que se tenha a equipa de Domingos em atenção.

Ficha de jogo:

Árbitro: Serge Gumienny (Bélgica), assistido por Mark Simons e Frank Bleyen (Bélgica)
SP. BRAGA: Mário Felgueiras; Miguel Garcia, Moisés, Rodríguez e Elderson; Vandinho, Andrés Madrid e Salino; Alan (Hélder Barbosa, 90m), Paulo César e Lima (Matheus, 66m).
Treinador: Domingos Paciência
Não utilizados: Artur, Keita, Sílvio, Meyong, Aníbal.
CELTIC: Zaluska; Cha Du Ri, Loovens, Hooiveld e Mulgrew; Juarez (James Forrest, 79m)e Ki Sung Yeung; Maloney (Murphy, 71m) Scott Brown e Ledley; Samaras.
Treinador: Neil Lennon
Suplentes: Cervi, Fortune, Crosas, Pat Mccourt, Thomas Rogne e James Forrest
Golos: Alan g.p. (26 m), Elderson (76m) e Matheus (89m)
Disciplina: Amarelo para Mulgrew (5m), Ki Yueng (25m), Hooiveld (42m), Loovens (60m), Salino (90m)