A Espanha é um país de excessos, de ódios e paixões exacerbadas. Talvez no mundo desportivo não haja outro evento que mexa com tantos sentimentos, paixões e ponha a nu as clivagens existentes numa sociedade, como o Real x Barça. El clássico, é o jogo dos jogos. Faz parar a Espanha de Ceuta à Corunha. Sábado, os olhos de Espanha e do mundo estarão no Santiago Bernabéu...

A rivalidade entre estes dois clubes é bem mais que uma simples rivalidade futebolística, é uma rivalidade cultural que engrandece o futebol espanhol e a própria Espanha.

De um lado está Madrid, cabeça do reino, imperial, centralista, situada no centro da Península; do outro lado Barcelona, capital da Catalunha, orgulhosa, rebelde, com uma história e identidade cultural impar, motor económico de Espanha.

A rivalidade entre os dois cresceu durante o século XX, naquele que foi o século mais sangrento da história espanhola. Um período de lutas e divisões que ainda hoje marcam a actualidade política de nuestros hermanos.

Em Madrid, o clube assume orgulhosamente o epíteto de Real e a coroa no emblema, por outro lado o Barcelona nunca escondeu as suas raízes e simpatias republicanas, além de ser a principal bandeira do independentismo.

O símbolo maior do nacionalismo catalão foi fundado por estrangeiros (mas não castelhanos!), enquanto por sua vez o Real Madrid teve como fundador e primeiro Presidente um catalão natural de Barcelona, numa curiosa inversão de papéis.

O Real teve um Presidente que lutou na Guerra Civil ao lado dos nacionalistas, e participou na conquista da cidade de Barcelona, enquanto os catalães tiveram um presidente republicano fuzilado pelos nacionalistas no mesmo conflito.

Se o Real teve Puskas, o Barça teve Kubala. Se Di Stéfano vestiu a camisola merengue, Diego Armando Maradona vestiu de azul grená.

Di Stefano e Figo serão os dois jogadores que mais contribuíram para rivalidade e ressentimento dos barcelonistas em relação aos madridistas.
O primeiro foi “desviado” para Madrid com uma mãozinha do poder franquista quando já tinha tudo acertado com os catalães; o segundo mudou de clube a troco de um colossal contrato em Madrid, deixando a afición barcelonista órfã do seu ídolo e em profundo estado de raiva.

Talvez nenhum jogo tenha visto tantos e tão bons jogadores em campo: Cruijff, Zidane, Puskas, Figo, Lineker, Romário, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Raúl, Butragueño, Xavi, Laudrup, Stoichkov, Di Stéfano, Maradona, Messi, Cristiano Ronaldo, preenchem uma lista de estrelas impar.
Este é o custo da rivalidade entre merengues e culés. Cada um tem de ter sempre melhores jogadores que o outro.

O resto do mundo agradece...

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