A noite arrancou com Seda. O projecto que revisita música portuguesa dos anos 80 - que conta com Gabriela Barros, Miguel Majer e Ricardo Santos - não escapou aos clássicos 'Cairo', '40º Graus à Sombra', 'Deixa-me Rir' ou 'O Corpo é Que Paga'.

O ambiente ia aquecendo e a expectativa era já alta para o concerto que se seguia. Foi Estelle quem subiu ao palco, com 'Freak', tema do novo álbum prestes a sair para os escaparates. A cantora britânica agarrou o público desde o início, com uma actuação cheia de ritmo, que contagiou a assistência. Ao som de 'No Substitute Love', 'Come Over' ou 'American Boy', difícil foi ficar parado. Se Estelle queria testar a reacção do público português ao último single que lançou, 'Fall In Love', certamente ficou bem impressionada. A Praça do Comércio vibrou com a revelação britânica, que preparou o público que ansiava pelo grande nome do cartaz.

Foi preciso esperar uma hora, mas Lauryn Hill (ou Miss Hill, como agora quer ser chamada) apareceu. 'Lost Ones' foi o tema de abertura, a provar as suas qualidades de MC. Para quem esteve longe do palco por tanto tempo, Hill surgiu confiante, assumiu o comando, e nunca perdeu o controlo da banda, com indicações constantes para dentro de palco. A versão que trouxe de 'Ex-Factor', um rearranjo com mais rap e mais acelerado do que o original, dividiu o público, que parecia não reconhecer a música. Mas a inconfundível voz enrouquecida, que a qualquer momento parece poder falhar, e que tanto caracteriza a cantora mostrou-se em 'When It Hurts So Bad', 'Zion' ou 'Forgive Them Father', todos temas do primeiro álbum, "The Miseducation of Lauryn Hill", de 1998.

Do especial acústico "MTV Unplugged No. 2.0", lançado em 2002, Hill só escolheu 'Just Like Water'. O resto do concerto foi dedicado aos Fugees, grupo de formação da cantora. Nada que tivesse importado à assistência, que entoou a uma só voz temas como 'How Many Mics', 'Fu-Gee-La' ou 'Ready or Not'. A versão de 'Killing Me Softly' não foi esquecida no final do espectáculo e fez estremecer o público.

Hill ainda regressou com 'Turn Your Lights Down Low', de Bob Marley e encerrou com 'Doo Wop'. Desde 2002, Lauryn Hill tem-se mantido afastada da ribalta até este ano, quando voltou a actuar. Ainda assim, a cantora norte-americana não foi esquecida, como ficou provado pela actuação desta noite. Uma performance enérgica, contagiante, com um ritmo imparável desde o início, que conquistou todos os que ansiavam por uma (primeira) actuação da cantora em Portugal.

«We aprecciate your support! Love you!» foram as palavras finais que dirigiu ao público. Talvez este seja o regresso da agora Miss Hill. Numa entrevista à norte-americana National Public Radio, em Junho, dizia que esta podia ser a altura, que voltou a estar entusiasmada, talvez volte aos estúdios. Nas últimas semanas chegou à internet uma música com a voz da cantora. Não se sabe se 'Repercussions' é um original ou se é um tema que nunca chegou a gravar, do seu repertório mais antigo. O que é certo é que Lauryn Hill voltou aos palcos e ontem, em Lisboa, o público acolheu-a e pareceu dizer: «bem-vinda de novo. Sentimos a tua falta».