Não vos venho falar dos cuidados a ter com a alimentação, nem a roda dos alimentos nem dar-vos dicas e truques para se manterem na linha. Eu digo-vos o que é a linha...

Destes dias todos a ter aulas no Porto (no Porto mesmo), devo dizer que adoro passear sozinho pelas ruas e sentir-me perdido. O ar que se respira, os poucos monumentos e locais onde é possível fechar os olhos e imaginar uma voltinha ao passado...

Reparei também, nos mendigos. Os pobres homens que estendem a mão quando vêm uma cara bonita passar ou um sorriso. Reparo particularmente num, quando venho embora, ele costuma estar perto da entrada do mercado do bolhão, do outro lado da rua. Tem uns 3 cães sempre com ele, com comida, agua, cobertores, e alguns brinquedos para os animais. E é comum vê-lo sorrir olhando para eles, e exprimindo felicidade e ao mesmo tempo orgulho.

Isto, meus amigos, é uma lição de vida. Um acto de pura amizade com os animais, mesmo na maior pobreza, ainda foi capaz de partilhar o dinheiro com eles e fazê-los sobreviver, em vez de os deixar morrer na rua como qualquer outro rafeiro que enxotamos quando se chegam perto demais a nós. Pelo menos a mim, isto parte-me o coração. Todos estes homens têm vidas, têm histórias para contar, e têm um motivo para pedir, que lhes está debaixo da língua quando as pessoas passam. Eles não têm medo de pedir. Nem para eles, nem para os animais, que ao contrário das pessoas, não traem. Há dias parei por junto dele, e perguntei se podia fazer-lhes uma festinha. Ele disse que sim, claro. Dei-lhe uma moeda de 2€, e fiz umas festinhas aos cães. Eles pareciam-me felizes e contentes, principalmente por ter um dono que mesmo sem nada, tinha mais que muita gente para lhes dar. Quantos de nós têm realmente brinquedos para dar aos nossos animais domésticos...

Eu invejo-o. Invejo-o com todo o meu ser, porque num país, no mundo que é nosso tão obeso, tão egoísta, tão gastador, que tomam decisões sem pensar e gastam mais rápido do que demoram a pôr os códigos dos cartões nas máquinas... Ainda há quem esteja no fundo, e tenha um coração maior do que Portugal inteiro. Ainda há quem dê a vida por aquilo que para muitos é fútil. Talvez assim seja porque não lhe resta nada material. Mas o sentimento não é esse. Não interessa uma mansão enorme, dezenas de quartos e empregadas. Interessa o que realmente temos, o que realmente é nosso, e lutarmos por mantermos o que adoramos e mais amamos vivo.

Nem que seja preciso morrer por isso.

- theLittleSP. escreveu:- bem escrito , parabéns.